Nada mais bobo do que sair por aí à
caça de Pokémon. E, pior, colecionar. Bom, pelo menos, esse joguinho serviu
para fazer um mundo de gente se levantar de suas cadeiras, da frente das telas
de seus computadores, pegar seus dispositivos móveis e cair no mundo real,
andando a pé, mesmo, em busca dessas criaturinhas virtuais, como se disso
dependesse a sua própria sobrevivência.
O negócio é que, por trás dessa
brincadeirinha, aparentemente inocente e inócua, existe um universo de
possibilidades que, desde décadas, vem sendo desenhado com uma mistura do mundo
real com o mundo virtual. Desde os primórdios do cinema, onda a ilusão visual
era uma ferramenta decisiva na construção de uma realidade fora dos padrões
normais, concebida por Harold Lloyd, cuja cena mais famosa é o seu personagem
pendurado em um relógio, no alto de um prédio. Alguns anos depois, Hollywood
colocou o ator Gene Kelly cantando e dançando com os personagens do desenho
animado, Tom & Jerry. Na saga de Guerras na Estrelas, Luke Skywalker luta
contra Darth Vader sobre um abismo, no interior da Estrela da Morte. Nos dias
de hoje, poucas cenas de perigo são produzidas em ambiente real. Essa mistura
do real com o virtual foi muito usada pela televisão, em tempo real, outra
expressão comum da década de 1990, nas transmissões de partidas de futebol,
inserindo marcas, logotipos e placas nas beiradas dos campos, nos gramados, nas
arquibancadas ou em qualquer outro lugar, de forma a perecer que aquilo está
lá, realmente. Junto com isto, cientistas da tecnologia desenvolviam óculos de
3D, enormes e pesados. Depois veio o Google Glass, feios, incômodos e
deselegantes.
O futuro se escancara diante dos
nossos olhos, com os digital maps, digital globes e street views. Você Não
precisa mais ir lá para conhecer. Passear por ruas, praças, praias e até um
mergulho no Mediterrâneo, no litoral das ilhas gregas, pode ser feito
virtualmente.
O próximo passo são carros equipados
com tecnologias onde os motoristas serão dispensados, os obstáculos das ruas
antecipadamente visualizados, cirurgias executadas sem métodos invasivos,
exames de órgão em projeção holográfica, com visão tridimensional, com o mapa
anatômico detalhado do órgão e todos os seus problemas. As pessoas terão
implantadas micro sistemas, altamente complexos, de inteligência artificial, em
seus organismos, que transmitirão todo tipo de informação desejada,
instantaneamente. Tudo vai mudar. As relações sociais, econômicas e políticas. Com
a chegada da internet das coisas, quando eletrodomésticos, como geladeiras e
fogões, serão ferramentas de coleta de informações relevantes para o dia-a-dia,
como a hora de tomar o remédio, de comprar os mantimentos e outras atividades
prosaicas da casa, da escola, do trabalho e das instituições sociais. Aliás, o
que mais deverá sofrer mudanças, será o ambiente do trabalho. Hoje, mesmo,
parte do meu tempo de trabalho é cumprido em casa e os trabalhos são enviados
pela rede, com o mínimo de uso de papel, tinta, pincéis, lápis, canetas e
outros utensílios para execução do trabalho.
A produção de textos e imagens são,
em sua maior parte, produzidos virtualmente, em computadores de mesa ou em
dispositivos móveis. É o mundo real sendo invadido pelo mundo virtual e pela
realidade aumentada. Em pouco tempo, muito pouco tempo, tudo estará conectado,
aparelhos elétricos e eletrônicos, utensílios domésticos e profissionais, inclusive
roupas.
A informação unipresente cria muitas
e infinitas possibilidades de mercado. Possibilidades nunca, antes, imaginadas.
Identificar, plenamente, um cliente potencial, a pessoa, saber do que gosta, o
que come, seus horários, seus problemas de saúde, suas potencialidades físicas
e, com isso, poder oferecer soluções individualizadas e personalizadas,
ajustada ao perfil único desse usuário, muda e vira pelo avesso todas as
concepções dos modos de produção, de comercialização, de Marketing e de toda a
logística, uma vez que, a produção e comercialização de bens, e a oferta de serviços
será toda particularizada e distinta, com a eliminação de depósitos, armazéns e
transporte de grandes volumes.
As ferramentas de Comunicação estarão
sob o total controle dos usuários, que fruirão o que quiserem, na hora que
quiserem e aonde estiverem. Falar com essas pessoas vai ser uma tarefa
duríssima para os profissionais de Marketing e Comunicação. Nada será como
conhecemos, hoje. Por outro lado, com a internet das coisas, como chamamos
atualmente, as opções de veiculação de material promocional serão muito mais
distintas e criará uma interatividade plena e muito mais efetiva entre a
demanda e a oferta. Mais importante é compreender que todo os processos
produtivos, desde a percepção dos desejos e necessidades, distribuição e
comercialização de produtos e serviços, sofrerão mudanças drásticas,
determinando o fim definitivo do mercado de massas. Estaremos no ápice do
mercado individual.
Da mesma maneira que aproxima todas
as pessoas, as novas tecnologias vão tornar as relações pessoais, cada vez mais
virtuais, aumentando a distância entre os indivíduos. Mas isso não é o fim, é o
princípio de um admirável mundo novo que, nós, os mais velhos, deverão se
acostumar com ele, e se acomodarem a ele.