terça-feira, 11 de junho de 2019

PODER E SEDUÇÃO

Os últimos acontecimentos, hoje estamos no dia 11 de Junho de 2019, no que tange nos protagonistas da chamada Operação Lava Jato, nos têm preocupado sobremaneira. Não que estejamos com opinião pendente para um lado ou para outro. Não nos apetece a ideia de defender, incondicionalmente, o pessoal do Ministério Público, liderados pelo Deltan Dallagnol, ou o ex-juiz Sérgio Moro, ou o mais famoso dos acusados e condenados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem nenhum dos acusados e, eventualmente, condenados por corrupção.

O que nos preocupa, de fato, é a condução dessas questões, do ponto de vista do Marketing. Aqui, podemos substituir o termo Marketing por Gerenciamento, ou como alguns gostam de dizer, Gestão da Crise, uma vez que, colocada ao público contribuinte as artimanhas para enquadrar o mais famoso dos acusados, nenhum dos envolvidos se deu conta de que qualquer coisa que fosse dita, se voltaria contra eles. Os fatos são os fatos, o resto é história. Mas para se contar uma boa história e que ela seja convincente, a primeira coisa da qual não se pode abrir mão é a CREDIBILIDADE. E o que temos, hoje, é a total falta de credibilidade nas instituições. Seja pela falta de transparência, seja pela profusão de notícias falsas, seja pela total incompetência em gerenciar crises.


Não é de hoje que a repercussão dos fatos da tal Operação Lava Jato provoca ira de um lado e comemorações do outro lado, numa torcida apaixonada do contra e do a favor, seja por um lado ou por outro. Aqui, como em todos os casos recentes, tais como o do Neymar Jr., do vereador Carlos Bolsonaro, sobrou arrogância e faltou inteligência de Marketing.

Como é isso, então, que um profissional de Marketing se torna figurinha fundamental para orientar uma pessoa pública, seja um jogador de futebol, um reitor de universidade, um vereador, um procurador público ou, até mesmo, o presidente da república? Muito simples de entender e difícil de aceitar, até, porque, as pessoas acreditam que podem resolver esses problemas por conta própria. IMAGEM PÚBLICA. Coisa difícil de construir e muito fácil de ser destruída. Se bem que, a maneira como foi construída a Imagem Pública do, agora, Ministro Sérgio Moro, assim como a do Procurador Deltan Dallagnol, se aproveitou da imagem de um ex-metalúrgico que alcançou o cargo de Presidente da República a duras penas, após ter perdido três eleições.

De maneira frágil, do ponto de vista do Marketing, a imagem construída dessas duas personagens, cedo ou tarde iria se desfazer. Imagem é tudo. Mas precisa ser construída sobre fatos relevantes e que suportem os mais duros revezes. Hoje só temos uma pessoa que está sabendo usar, com inteligência, a sua imagem pública, mesmo preso há mais de ano, Lula incomoda quando o deixam falar. Lula sabe usar, muito bem, a sua imagem, além de tudo, aprendeu a ouvir seus conselheiros mais equilibrados e não se deixa seduzir pelo “eu mesmo faço” das redes sociais que, se utilizada de forma irresponsável e nada profissional, provoca os maiores desastres institucionais. A realidade não nos deixa mentir, nem aponta que estamos equivocados na nossa avaliação.

Quem olha “de fora” tem uma visão mais ampla do jogo que está sendo jogado. Na política, todos os jogadores estão viciados em velhos hábitos, usos e costumes. Acreditam que podem resolver tudo e explicar tudo, sem a devida orientação de como agir, falar e se dirigia ao público. E isso não é uma tarefa fácil. É um erro gravíssimo imaginar que os públicos são sempre crédulos, sempre contra ou sempre alienados. As pessoas se interessam por aquilo que as afeta diretamente. E as pessoas estão percebendo que a política acontece todos os dias, todas as horas, a cada instante, por isso estão acompanhando. Sabem que a política está afetando o seu bolso, que é um órgão hipersensível.

O que estamos vivendo nestes últimos meses é um festival de bizarrices que, via de regra, favorece o preso mais famoso do Brasil, que foi promovido de preso comum, por corrupção, à categoria de preso político. E isso é um fato. Reforçado, sem que uma palavra fosse dita nesse sentido, pelos seus próprios adversários que, de maneira amadora e pueril, conversaram em um aplicativo de comunicação, sem se darem conta de que a internet é o “lugar” mais inseguro do universo. Invasores existem por todos os lados. E, cá entre nós, tem coisas que devem ser conversadas longe de tudo e de todos. As novas tecnologias permitem que todo e qualquer espaço público ou privado, real ou virtual, seja monitorado permanentemente. Essas conversas no aplicativo foi, no mínimo, burrice.

O que temos agora? Todo um trabalho, de extrema importância para a moralização de todo um país, que limparia toda uma história nacional, que foi construído arduamente, ao longo de décadas, pode ser jogado fora, anulando julgamentos e inutilizando provas importantíssimas, por causa incapacidade de conviver com as nuances do poder e não se deixar seduzir por ele, ainda mais quando a fama explode como uma chuva de fogos de artifício, num espetáculo ilusório como os filmes de aventura e de super heroísmos.


Pessoas públicas deveriam aprender a lidar e a administrar a sua imagem. Quem pode orientar e “educar” esses indivíduos são os profissionais de Marketing, que vivem fazendo isso com produtos, serviços, empresas e, até mesmo, pessoas.

Imagem é tudo. A má administração ou a total ausência dela coloca tudo a perder, numa eventual crise, por menor que seja.

Afinal, os fatos são os fatos, o resto é história.

E, até, os fatos podem ser construídos. E entrar para a História.

domingo, 7 de abril de 2019

MIOPIA

Lá pelos meados do Século XX, Theodore Levitt escreveu seu artigo "Miopia em Marketing". Li e reli este artigo dezenas de vezes e perdebo que se tornou um texto, por assim dizer, profético. Ali ele discorre sobre a visão curta e/ou distorcida dos negócios, falhas administrativas, ausência de propósitos, de planejamento e de inteligência corporativa, com gestores que preferem olhar para o próprio umbigo a levantarem os olhos para a realidade do mercado.

Não pretendo, nesse momento, fazer nenhuma crítica pessoal sobre métodos ou critérios que os gestores possam assumir no curso de suas atribuições, mas o mínimo que se espera é equilíbrio e bom senso. O que observamos na política nacional, no nível superior da gestão federal, é um apanhado de trapalhadas de fazer vergonha aos Três Patetas. A quantidade de trapalhadas, de feitos e desfeitos, de ofensas pessoais, desequilíbrio emocional e uma gestão voltada, unicamente, para satisfação do ego, são de deixar qualquer um constrangido. A falta de temperança do Ministro da Economia, o Sr. Paulo Guedes, durante a sabatina com Deputados, é de cortar o coração. Frente à provocação, da falta de educação e de respeito manifestada pelo deputado do PT, caberia ao Sr. Paulo Guedes, como Ministro de Estado, dizer, claramente, que não foi ali para ser agredido e que não permaneceria no recinto, se o discurso permanecesse nesse nível. Mas, qual nada, desceu do seu pedestal e foi bater boca, de igual para igual, demonstrando incapacidade para um cargo de tamanha importância e que exige comportamento diplomático frente a ofensas muito mais graves.

Mas essa parece ser a tônica desse governo. Decisões são tomadas no arroubo de posições pessoais, em detrimento do interesse nacional. Ofensas são dirigidas a um Estado, mesmo que não localizado, mas com lugar de observador na ONU, de maneira irresponsável, o que pode provocar uma grave crise entre o Brasil e o Estado Palestino. Logo o Brasil, que sempre tomou a sábia decisão de manter a neutralidade. Isso sem falar na abertura de um escritório de representação em Jerusalém. Isso vai, sim, criar muitas dificuldades para o Brasil, no que se refere às exportações de frango e carne bovina para os países árabes. São, nada mais nada menos do que 65% das exportações de frango e 40% das exportações de carne bovina. Já não bastasse os problemas com a luta contra a corrupção, e vem o governo abrir mão de um baita negócio, por causa de posições religiosas.

Para entender a questão de Israel, é bom saber que, segundo a Bíblia, o povo de Israel, quem foi prometida a terra que emana leite e mel, não é o Estado de Israel, mas os descendentes de Jacó, que depois da luta com o anjo, e ter uma das pernas mutilada, recebeu o nome de Israel. A ele foi feita a promessa da terra que teriam por herança, os "filhos de Israel". Não os israelenses. Esse relato bíblico é a profecia da libertação do povo de Israel, os tais descendente de Jacó, feitos escravos por 400 anos no Egito, libertados por Moisés, que não era branco e se casou com uma etíope.

Também de acordo com os relatos bíblicos, quando Jesus fala de libertação, não fala de política partidária ou do Estado estabelecido, que ele mesmo orienta a ser respeitado. "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Portanto, se César que terras, que e ela sejam dadas todas as terras que ele quiser. Mas, nunca entregue seu espírito, nem a sua dignidade, nem a sua vida. Assim, fazer a leitura de que Israel descrita nos relatos bíblicos é o Estado de Israel, é uma miopia fenomenal. Uma incapacidade de compreensão dos fatos históricos e os desejos de uma religião.

Acreditar que o uso da força vai reduzir o uso da força é o mesmo que combater fogo com fogo. Fogo se combate com água. Ou com pó seco. Erro de análise, crença em mitos, provincianismo e ciclo auto ilusório. Quando o Presidente abre as portas para uma nação exploradora, sem exigir contrapartida, é se colocar sob a sujeição do Sr. Trump. Quando o Sr. Presidente diz que não há nada a construir para os brasileiros, mas desconstruir o que seus antecessores fizeram, para "limpar" o Brasil da impureza comunista e de esquerda, já não é miopia, é cegueira. Quando um Ministro da Educação ofende os brasileiros, mesmo os que nunca viajaram para o exterior, é miopia, porque não consegue ver de forma clara, objetiva e verdadeira.

Não é possível acreditar na máxima do "ele não me representa". Ele representa, sim, é o Presidente. O que podemos esperar é que ele perceba que precisa de óculos para ver o mundo de maneira mais nítida, mais clara, sem os entraves da religião e das crenças e ideologias pessoais. Ele foi eleito para governar e, como prometeu, um Brasil para os brasileiros. Não cabe aqui discutir se a campanha teve esse ou aquele viés ideológico. Isso já é pretérito. A campanha já acabou e os Bolsonaro já deveriam saber disso. O pai deve governar, mesmo que não goste ou acredite que não nasceu para isso. Quanto aos filhos, coloquem-se no seu devido lugar. São parlamentares. Então parlamentem, em vez de ficarem lançando seus pensamentos ao vento, criando tempestades.