quinta-feira, 3 de maio de 2018

A TEORIA DA MOCHILA



No filme "Amor Sem Escalas", George Clooney representa um executivo de Recursos Humanos, responsável por demitir pessoas. E ele gosta do trabalho que faz, tem prazer nisso. Entre uma "execução" e outra, dá palestras para outros executivos de RH, nos auditórios de aeroportos. Sim, ele se sente em casa nos aeroportos.

Mas não é de onde, nem como ele se sente em casa, que quero falar, hoje, é sobre a, tão falada no filme, Teoria da Mochila Vazia. Em suas palestras ele discorre sobre uma hipotética mochila, na qual ele convida as pessoas a colocarem as coisas que vão carregando pela vida. Coisas úteis e coisas perfeitamente inúteis.



Então, pensemos sobre a mochila hipotética e as coisas que colocaríamos dentro dela. Agora, vamos pensar além do que o personagem propõe, o de tirar o peso dos ombros, descartando a mochila com tudo o que ela tem dentro. Vamos pensar no que é, realmente, um peso em nossas vidas.

Todos nós temos uma mochila hipotética para encher, ou em fase de enchimento. E não estou propondo que, todos, descartemos nossas mochilas. Não. Eu acredito que se fizermos isso, estaremos abrindo mão de nossa própria história, de nossas lembranças e, em muitos casos, da nossa própria existência. O nosso problema não está na mochila, nem nas coisas que colocamos lá dentro, o problema está nas escolhas que fazemos, das coisas que vamos colocar dentro de nossas mochilas. Olhe para a sua mochila. Olhe para o que você escolheu colocar dentro dela. A mulher amada, os filhos, a casa, o carro, as viagens, os planos de carreira, a preocupação excessiva com a morte e o medo de morrer, a conta bancária, o futebol com os amigos, trabalhar demais, trabalhar de menos, reclamar das coisas, agradecer pela vida. Agora, pergunte a si mesmo: o que você colocou na sua mochila é, realmente, tão importante assim?

Agora, vamos olhar para as nossas escolhas, retirando todas elas de dentro da mochila, com todo cuidado para não quebrar. Quando tiver tirado tudo de dentro da mochila, olhe atentamente para cada uma delas. Agora, pegue cada uma, com as duas mãos e perceba o quanto pesa cada uma delas. Avalie, atentamente, para não se arrepender depois. Arrependimentos sinceros são coisas muito boas, redirecionam nossas vidas. Mas, escolhas sensatas evitam muitos problemas e arrependimentos desnecessários.

Novamente voltemos ao conteúdo que retiramos da mochila. Sinta o peso de cada uma delas. Depois disso, recoloque na mochila, tudo aquilo que você sente que não te pesa. Avalie cada coisa e, antes de colocar dentro da mochila, sinta, de novo, o peso que cada coisa tem na sua vida. A mulher fútil, o carrão de luxo, a casa esplendorosa, os filhos abandonados e mal educados, os cartões de crédito estourados e todas aquelas coisas que não têm a menor importância e que, no entanto, não nos permitimos ou relutamos em abrir mão delas.

Aquilo que amamos, de verdade, e prezamos genuinamente, não pesa. O problema é que essas coisas não têm glamour, não trazem fama e nem fortuna.

A Teoria da Mochila Vazia tem o seu sentido  e um profundo significado, se pensamos nas escolhas que fazemos na vida, nas coisas que escolhemos, não pelo seu preço, mas pelo valor que carregam em si mesmas, sem dar importância se isso faz, ou não, diferença para os outros. E, se tem uma coisa que nos influencia a fazer as escolhas certas, das coisas que vamos colocar em nossas mochilas, é o desejo profundo e genuíno de encontrar a felicidade. E a felicidade não se compra. Até porque as coisas que nos fazem felizes são muito simples, geralmente não custam nada e não pesam nem um pouquinho.

A propósito, o filme tem um final melancólico. O personagem de George Clooney ganha as tão esperadas milhões de milhas, não encontra o amor, não consegue realizar seus sonhos e, diante do painel de voos, no aeroporto, não sabe o que fazer da vida, sozinho, perdido, abandona sua mochila cheia (quem sabe vazia), no saguão do aeroporto. Alegoria triste, de uma morte em vida.





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