domingo, 7 de abril de 2019

MIOPIA

Lá pelos meados do Século XX, Theodore Levitt escreveu seu artigo "Miopia em Marketing". Li e reli este artigo dezenas de vezes e perdebo que se tornou um texto, por assim dizer, profético. Ali ele discorre sobre a visão curta e/ou distorcida dos negócios, falhas administrativas, ausência de propósitos, de planejamento e de inteligência corporativa, com gestores que preferem olhar para o próprio umbigo a levantarem os olhos para a realidade do mercado.

Não pretendo, nesse momento, fazer nenhuma crítica pessoal sobre métodos ou critérios que os gestores possam assumir no curso de suas atribuições, mas o mínimo que se espera é equilíbrio e bom senso. O que observamos na política nacional, no nível superior da gestão federal, é um apanhado de trapalhadas de fazer vergonha aos Três Patetas. A quantidade de trapalhadas, de feitos e desfeitos, de ofensas pessoais, desequilíbrio emocional e uma gestão voltada, unicamente, para satisfação do ego, são de deixar qualquer um constrangido. A falta de temperança do Ministro da Economia, o Sr. Paulo Guedes, durante a sabatina com Deputados, é de cortar o coração. Frente à provocação, da falta de educação e de respeito manifestada pelo deputado do PT, caberia ao Sr. Paulo Guedes, como Ministro de Estado, dizer, claramente, que não foi ali para ser agredido e que não permaneceria no recinto, se o discurso permanecesse nesse nível. Mas, qual nada, desceu do seu pedestal e foi bater boca, de igual para igual, demonstrando incapacidade para um cargo de tamanha importância e que exige comportamento diplomático frente a ofensas muito mais graves.

Mas essa parece ser a tônica desse governo. Decisões são tomadas no arroubo de posições pessoais, em detrimento do interesse nacional. Ofensas são dirigidas a um Estado, mesmo que não localizado, mas com lugar de observador na ONU, de maneira irresponsável, o que pode provocar uma grave crise entre o Brasil e o Estado Palestino. Logo o Brasil, que sempre tomou a sábia decisão de manter a neutralidade. Isso sem falar na abertura de um escritório de representação em Jerusalém. Isso vai, sim, criar muitas dificuldades para o Brasil, no que se refere às exportações de frango e carne bovina para os países árabes. São, nada mais nada menos do que 65% das exportações de frango e 40% das exportações de carne bovina. Já não bastasse os problemas com a luta contra a corrupção, e vem o governo abrir mão de um baita negócio, por causa de posições religiosas.

Para entender a questão de Israel, é bom saber que, segundo a Bíblia, o povo de Israel, quem foi prometida a terra que emana leite e mel, não é o Estado de Israel, mas os descendentes de Jacó, que depois da luta com o anjo, e ter uma das pernas mutilada, recebeu o nome de Israel. A ele foi feita a promessa da terra que teriam por herança, os "filhos de Israel". Não os israelenses. Esse relato bíblico é a profecia da libertação do povo de Israel, os tais descendente de Jacó, feitos escravos por 400 anos no Egito, libertados por Moisés, que não era branco e se casou com uma etíope.

Também de acordo com os relatos bíblicos, quando Jesus fala de libertação, não fala de política partidária ou do Estado estabelecido, que ele mesmo orienta a ser respeitado. "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Portanto, se César que terras, que e ela sejam dadas todas as terras que ele quiser. Mas, nunca entregue seu espírito, nem a sua dignidade, nem a sua vida. Assim, fazer a leitura de que Israel descrita nos relatos bíblicos é o Estado de Israel, é uma miopia fenomenal. Uma incapacidade de compreensão dos fatos históricos e os desejos de uma religião.

Acreditar que o uso da força vai reduzir o uso da força é o mesmo que combater fogo com fogo. Fogo se combate com água. Ou com pó seco. Erro de análise, crença em mitos, provincianismo e ciclo auto ilusório. Quando o Presidente abre as portas para uma nação exploradora, sem exigir contrapartida, é se colocar sob a sujeição do Sr. Trump. Quando o Sr. Presidente diz que não há nada a construir para os brasileiros, mas desconstruir o que seus antecessores fizeram, para "limpar" o Brasil da impureza comunista e de esquerda, já não é miopia, é cegueira. Quando um Ministro da Educação ofende os brasileiros, mesmo os que nunca viajaram para o exterior, é miopia, porque não consegue ver de forma clara, objetiva e verdadeira.

Não é possível acreditar na máxima do "ele não me representa". Ele representa, sim, é o Presidente. O que podemos esperar é que ele perceba que precisa de óculos para ver o mundo de maneira mais nítida, mais clara, sem os entraves da religião e das crenças e ideologias pessoais. Ele foi eleito para governar e, como prometeu, um Brasil para os brasileiros. Não cabe aqui discutir se a campanha teve esse ou aquele viés ideológico. Isso já é pretérito. A campanha já acabou e os Bolsonaro já deveriam saber disso. O pai deve governar, mesmo que não goste ou acredite que não nasceu para isso. Quanto aos filhos, coloquem-se no seu devido lugar. São parlamentares. Então parlamentem, em vez de ficarem lançando seus pensamentos ao vento, criando tempestades.

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