sábado, 30 de julho de 2011

O HOMEM QUE QUERIA SER REI



Quando afirmo que a natureza humana é cheia de mistérios, não significa que o indivíduo humano seja uma entidade sobrenatural e insondável em seus desígnios. O mistério da natureza humana está na possibilidade de ser extremamente previsível, quando ficamos mais atentos aos seus atos e comportamentos como animal (i) racional.


Vejamos, então, o caso do empresário Abílio Diniz, um homem audacioso, destemido, combativo e ambicioso. Pois bem, o homem quer ser rei, rei do varejo. Abílio fez do Grupo Pão de Açúcar, conglomerado familiar, uma potência no setor, consolidação feita com muito trabalho, competência e uma invejável capacidade de negociar, mesmo estando em situação de desvantagem, certa vez, em disputa interna pelo controle da corporação, colocou até seu irmão Alcides, em posição de antagonista. Nos últimos anos, adicionou ao patrimônio da família, a rede de lojas Ponto Frio, do Rio de Janeiro as Casas Bahia, à época controlada pela família Klein. Agora, em guerra franca contra seu sócio francês no conglomerado, o Casino, deseja o controle da operação brasileira do Carrefour, o que tornaria o Grupo Pão de Açúcar o líder isolado, nacionalmente, no segmento. Acontece que na França, o Casino e o Carrefour são arqui-rivais e este movimento de Abílio deixou o pessoal do Casino muito desgostoso. É briga de cachorro grande, comenta-se pela imprensa econômica, que o sócio Klein não concorda com tal operação e deve fazer aliança com o Casino para impedir que o negócio se realize. Abílio tem como aliado, ninguém menos que o BNDES, banco oficial que extrapola suas funções de apoiar micro, pequenas e médias empresas brasileiras, apoiando financeiramente transações mbilionárias entre gigantes da iniciativa privada.


Nada tenho contra os objetivos de Abílio Diniz, todo mundo sabe que é um negociante astuto, sabe executar com inigualável competência o seu trabalho, mesmo quando usa meios pouco ou nada ortodoxos na administração de situações dessa natureza, chegando, até, a colecionar desafetos. A própria transação com as Casas Bahia não foi nada tranquila. Mas isso não é coisa que o incomode. De temperamento forte, como é próprio de líderes dessa natureza, persegue, com afinco, seus objetivos com inegável destemor. Uma derrota como a que sofreu recentemente, não o faz arrefecer, para ele a guerra ainda não acabou.


Abílio sabe muito bem o que tem pela frente e sabe, perfeitamente, aonde quer chegar. Sabe, também que a compra da operação brasileira do Carrefour lhe dá uma super vantagem competitiva e a liderança absoluta do setor, nacionalmente. Acontece que eu sou baiano e acontece que ela não é, como diria o bom e velho Dorival Caymi. Em 2012 o Casino toma para si o controle do Grupo Pão de Açúcar. Pode ser que com esse movimento, a compra da versão nacional do Carrefour, Abílio ganhe tempo para manter em suas mãos, por mais tempo o controle do Pão de Açúcar e, mais à frente, ter o cacife necessário para impedir que seus negócios passem para as mãos dos franceses. A situação é que o pessoal do Casino não está dormindo e quer fazer vales o que ficou estabelecido no acordo.


Ainda vai passar muita água por baixo dessa ponte, a novela nem está perto do fim, os contendores estão se fortalecendo para os próximos embates. Só que na briga entre o mar e as rochas que sofre são os mariscos. E nessa briga entre grandes corporações, existe um elemento coadjuvante que dá razão a toda essa celeuma e que não pode deixar de ser protegido: o consumidor.


Mas, ao que parece, nem o governo está preocupado com ele.

Nenhum comentário: